domingo, 26 de julho de 2009

Robinson Faria: “Há um processo de fritura do meu nome”


Anna Ruth Dantas - Repórter
A base política da governadora Wilma de Faria vive um momento de grande tensão. De um lado, o deputado estadual Gustavo Carvalho anuncia que o PSB terá como candidato o vice-governador Iberê Ferreira.

Do outro, o deputado estadual Robinson Faria (PMN), que também pretende disputar a sucessão estadual em 2010, reclama de que estão tentando “fritá-lo” no grupo de aliados da governadora.

Robinson Faria admite que “está decepcionado” com a governadora, reclama que há muitos meses não é chamado para conversar com ela sobre política e “estranha” a coincidência do marqueteiro do governo ser o mesmo de Iberê Ferreira. Para o deputado do PMN, as evidências apontam que o “Palácio do Governo”, e nesse bloco ele inclui a governadora e os auxiliares dela, estão trabalhando para favorecer a candidatura de Iberê Ferreira.

“Ninguém imaginava que meu nome chegasse ao patamar que chegou nas pesquisas, como também Micarla (hoje prefeita de Natal) foi subestimada em 2008. Achavam que ela (Micarla) era liderança frágil. O mesmo episódio que ocorreu com Micarla está ocorrendo comigo.

A leitura que eu faço é que estou passando por um processo de fritura ao meu nome”, avalia.Nesta entrevista, Robinson Faria recorda o apoio que concedeu à reeleição da governadora e que, naquela ocasião, a líder do PSB chegou a afirmar que “depois que ganhasse a eleição (em 2006), no dia seguinte passaria a trabalhar para a eleição dele”.

O deputado admite que está triste, decepcionado, mas garante que continua aliado de Wilma de Faria. “Não estou rompido com a governadora Wilma. Apenas estranho o comportamento dela comigo. Há também uma tentativa de distanciarem Wilma de mim. Não sei se ela está enxergando isso ou se está sendo induzida.

Mas continuo com o mesmo conceito de respeito e gostaria que tudo isso fosse superado”, ressaltou o deputado Robinson Faria.E o que teria Iberê de diferente de Robinson para merecer um tratamento diferenciado da governadora? “Essa pergunta eu não sei responder”, diz o líder do PMN.A seguir os principais trechos da entrevista que ele concedeu à TRIBUNA DO NORTE.

Chegou o momento de definição para os candidatos ao governo do Estado?Acho que é muito incipiente para se definir um candidato a governador, até porque a discussão que estava sendo debatida de prazo era para a virada do ano, o mais tardar no carnaval.

Isso foi externado pela própria governadora Wilma de Faria, pelo deputado Henrique Alves, presidente do PMDB, partido que está como aliado do governo. Nós também defendemos isso. E foi, para mim, uma surpresa a antecipação do prazo da escolha para o candidato e sem nenhum tipo de critério.

Qual o critério para escolher o candidato agora? É pesquisa ou imposição? A escolha de um candidato de um grupo que tem vários nomes não pode ser uma opção pessoal. Se essa escolha é impositiva, então não houve democracia, não houve tratamento democrático dentro do grupo. Foi simplesmente uma imposição verticalizada dentro do grupo.

Então os demais partidos não são importantes para a construção dessa vitória? O PSB sozinho irá resolver a parada de 2010?
Ao dizer que o Iberê não é pré-candidato, mas candidato, o deputado Gustavo Carvalho, impõe um nome? A leitura é de uma imposição.

É como se fosse: “O candidato está escolhido e vocês podem pegar o rumo de vocês. Vai ser Iberê e vocês podem, se discordarem, arrumar a mala e ir embora”. É mais ou menos assim.
Quem está impondo isso? O vice-governador Iberê, o deputado Gustavo Carvalho, a governadora Wilma de Faria?Eu não diria que a governadora está por trás disso, até porque deve ter pesquisas, deve escutar opiniões da classe política.

Ela recebe diariamente prefeitos e lideranças. É uma mulher que tem um instinto muito apurado. É governadora do Estado pela segunda vez. Ninguém subestime o instinto e percepção da governadora Wilma de Faria. Ela deve saber o momento e seria muito discordante da trajetória dela, uma incoerência pela trajetória dela, estar concordando com o que está acontecendo (com as declarações de Gustavo Carvalho).

Gostaria até de isentá-la pelo tipo de artimanhas que estão acontecendo. Agora é muito claro, perante toda população, de que há um grupo que patrocina a candidatura do vice-governador e deseja expulsar o deputado Robinson e o deputado João Maia do sistema comandado pela governadora Wilma de Faria.

É como se nós fossemos um obstáculo ao projeto de candidatura do vice-governador. Isso é uma logística equivocada. Como se constrói uma vitória ao invés de somar desagregando? Ou ele (Iberê Ferreira) prefere desagregar para ser o único candidato do sistema?
A estratégia seria desagregar?Para ficar só. As evidências sinalizam para isso.
Quem integra esse grupo que tenta desagregar?É o grupo que hoje deseja ver o vice-governador candidato.

seria?É o grupo próximo a ele. São os integrantes do Governo, outros auxiliares dele, o próprio Gustavo Carvalho que exteriorizou esse sentimento. A entrevista (de Gustavo Carvalho publicada na TN) é uma síntese do que estamos falando aqui. ele sintetizou muito bem a estratégia desse grupo (de Iberê Ferreira).

Acho também, e digo isso porque tenho ligação de amizade pessoal muito antiga com o vice-governador Iberê, mas por outro lado vejo ele muito distante de um diálogo comigo. Então é como se ele me olhasse como um concorrente, posso até ser concorrente, mas posso ser aliado.

Acho que a pretensão de Iberê é legítima, como é legítima a de João Maia, a de Carlos Eduardo (ex-prefeito de Natal) e espero que reconheçam que a minha também é legítima. Eu tenho seis mandatos, tenho trajetória, fui campeão de voto no Estado, deputado mais votado na história do Rio Grande do Norte.

O meu grupo foi decisivo na vitória de 2006. Até dizem que Iberê foi corajoso porque aceitou ser o vice de Wilma quando ela estava atrás (nas pesquisas). Tudo bem, reconheço a atitude dele, de coragem. Mas esquecem de completar a história, quando Robinson Faria negou o convite para ser o vice do candidato Garibaldi Alves, que estava com 30 pontos na pesquisa.

Se tivesse aceito esse convite por oportunismo, quebrando a minha história de coerência, gratidão, lealdade ao meu grupo, pelos números que foram apresentados nas urnas a mim e aos deputados do meu grupo, hoje, sem dúvida alguma, o número é maior do que qualquer argumento, o governador seria Garibaldi Alves e não Wilma de Faria.

Portanto, acho que Wilma também tem que ter uma reflexão da correção do deputado Robinson Faria como político e como presidente da Assembleia com ela. Foram seis anos de muita lealdade minha, de correção na campanha dela para governadora, de forma decisiva. Inclusive, quando eu tomei a decisão de ficar com ela, ela (Wilma de Faria) chegou a brincar comigo.

Estava presente, eu, ela e Vagner (Vagner Araújo). Quando eu cheguei na casa dela para comunicar que poderia ficar tranquila, eu não iria ser vice de Garibaldi e estaria com ela para ganhar ou para perder. Foi aí que ela disse: “Nós vamos ganhar e quando eu ganhar no dia seguinte em diante você começará sua campanha para ser meu sucessor”.

Eu estou relembrando essa passagem porque foi um momento de emoção entre eu e ela. Tenho a minha palavra, se ela vai manter a dela... Se Vagner Araújo vai sustentar esse momento... Foi no gabinete, no escritório dela (da residência da governadora).

O senhor está relatando que tinha um acordo?Não vou dizer que foi um acordo porque eu não impus isso. Não troquei o apoio de governador de hoje pelo de quatro anos atrás. Mas no momento da alegria, ela me disse que iríamos ganhar a campanha e disse: “Você será meu candidato a governador quando eu chegar ao Governo”.

Minha decisão de ficar com Wilma foi que deu um novo ânimo a campanha dela. A militância que estava desestimulada, quando disse o deputado Robinson recusou de ser vice de Garibaldi e ficou com Wilma, aquilo deu uma sacudida muito grande na eleição. Ela sabe disso.O senhor espera reciprocidade da governadora?Acho que ela teve o tempo inteiro minha reciprocidade, minha correção. Conte um momento em que eu não fui correto com Wilma. Só por que não apoiei Fátima (candidata a prefeita em 2008) em Natal? Por que discordei do acordão? Esse é um direito que eu tenho.

O senhor quer reciprocidade?Não estou aqui falando isso para que ela me apóie para governador. Não quero ser candidato a governador imposto pelo sentimento de um governador, de um deputado, de um partido. Quero ser candidato se eu for um nome que tenha viabilidade eleitoral e que tenha um sentimento de aglutinar forças ao meu nome.

Não quero impor, não quero cobrar fatura atrasada, fatura de 2006. Não quero cobrar minha lealdade a ela na Assembleia, não quero cobrar a ela tudo que viabilizei de projetos importantes para o Rio Grande do Norte. Ela sabe da minha participação decisiva. Não estou cobrando nada, tudo que fiz foi pela minha consciência.

Mas eu esperava que nessa fase de pré-campanha eu tivesse uma atenção diferente da que está sendo dada a mim hoje como um dos nomes que está sendo colocado (ao Governo). Eu não me lancei governador, meu nome foi lançado da leitura das urnas de 2006 com a vitória dela. Muita gente atribuiu (a vitória de Wilma de Faria) ao meu apoio. Esperava que nesse momento, em que ela ainda é governadora do Estado, oferecesse um tratamento diferente do que está me dando como pré-candidato.

O senhor não tem recebido atenção da governadora?Está faltando tratamento igualitário.
O que o senhor apontaria para provar o tratamento desigual?É muito nítido o comportamento do governo, da equipe de Wilma, dela própria, de fortalecer a candidatura do vice-governador Iberê. Isso aí qualquer pessoa do Rio Grande do Norte, jornalista, ou político ou observador atento, identifica esse DNA do Palácio do Governo favorável a Iberê.

Também não vou condenar Iberê, porque ele está no seu papel de seduzir, conquistar simpatias. Iberê está tendo mais sorte do que eu nessa conquista, mais sucesso do que eu. Eu sou uma pessoa que gosto muito de esperar a reciprocidade. Acho que parceria é isso, é cumplicidade, sequência de fatores.

Acho que eu não merecia ter esse tratamento equidistante que o Governo está dando a mim no momento que eu também estou tentando, legitimamente, viabilizar o meu projeto. Eu não esperava isso. Por outro lado, é também muito triste, aí eu tiro a governadora (exclui Wilma de Faria do grupo), esse grupo de choque que foi montado para alavancar a candidatura do vice-governador, criar factóides e tentando me expulsar o tempo inteiro do sistema comandado por Wilma de Faria.

Como o senhor reclama do tratamento desigual dado por secretários do Governo, se o senhor também indicou auxiliares no primeiro escalão do Governo?Mas quem comanda o Governo sou eu ou a governadora e o vice? Quem está com a rédeas do Governo? O Governo teve indicação de vários partidos, mas o comando político do Governo, a diretriz política do Governo nasce no gabinete da governadora e do vice.

Essa diretriz vem com o encaminhamento do nome de Iberê?Pela leitura que eu tenho feito não, mas pelo todos têm feito essa leitura. Quero aqui dizer mais uma vez, não estou criticando Iberê. Se ele conquista esse povo todo, está tendo apoio para isso. Ele está tendo uma retaguarda muito forte para isso. Há coincidências muitas que revelam que eu estou falando com propriedade. O marqueteiro de Wilma, o responsável pelo marketing do Governo do Estado é o mesmo marqueteiro para alavancar a candidatura do vice-governador. E eles têm tido reuniões sistemáticas. Tenho tomado conhecimento que os três se reúnem quase que toda semana.

Eles três quem?A governadora, o marqueteiro e o vice. E essas reuniões são para que? Para discutir o que?
Qual o interesse que a governadora e seus integrantes teriam para favorecer o vice-governador e não o senhor. O que diferencia hoje Robinson Faria de Iberê Ferreira?Não sei responder a essa pergunta. Porque todas as provas de lealdade eu já dei.

O que poderia fazer eu já fiz. Essa é uma pergunta difícil. O que eu tenho que provar mais? O que eu tenho para oferecer de provas mais do que já ofereci de conduta, lealdade, amizade, coerência, gratidão? Onde faltou de minha parte lealdade a Wilma? Será que foi porque defendi a Assembleia quando ela criticou? Isso faz parte. O pai discute com o filho, irmão discute com irmão, polêmica ainda mais numa atividade política, que requer controle emocional, é normal divergir.

Falando do seu sentimento, com essa postura da governadora e dos auxiliares dela, o senhor está triste com esse tratamento “diferenciado”?Diria que sim. Estou um pouco decepcionado, estou triste. Observo também que minha candidatura foi subestimada o tempo inteiro pelo Governo do Estado. Eu fui bastante subestimado. Ninguém imaginava que meu nome chegasse ao patamar que chegou nas pesquisas, como também Micarla foi subestimada em 2008. Achavam que ela era liderança frágil. O mesmo episódio que ocorreu com Micarla está ocorrendo comigo. A leitura que eu faço é que estou passando por um processo de fritura ao meu nome.

Essa “fritura” é promovida por auxiliares do governo, por por Iberê Ferreira ou pela governadora?Promovida pelo grupo do vice-governador que praticamente tomou corpo, dominou o Governo do Estado. Eu mesmo não entendo porque Iberê quase não tem conversado comigo. A governadora faz meses que não conversa comigo sobre política. Só tenho notícia dela conversando com inúmeras pessoas, com Henrique (Henrique Alves), com Garibaldi (com Garibaldi Alves), com Iberê, com n pessoas, mas parece até que eu não sou importante para o projeto de 2010. Mas tudo isso que eu falei não alterou e não altera nada na minha motivação.

Até porque eu entendo, tenho uma leitura e tenho um sentimento de que o candidato a governador não pode nascer de um contexto político partidário. Tem que nascer transcendendo esse contexto, começar na rua e vai até chegar ao gabinete. Nenhum candidato a governador pode nascer de um grupo de deputados que vão para os jornais dar entrevista motivados por interesses pessoais para tentar alavancar candidatura. O comandante de uma eleição majoritária não é o senador. Por mais importante que seja o senador, o palanque majoritário quem comanda é a figura do governador.

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