domingo, 21 de fevereiro de 2010

Iberê prepara sucessão e garante que não haverá “caça às bruxas”

Em entrevista a Diógenes Dantas, o vice-governador garantiu que indicados de adversários com bom desempenho permanecerão no governo.
O vice-governador Iberê Ferreira de Souza já admite que está preparando o terreno para os seus oito meses de mandato e tratando diretamente com a governadora para a composição da equipe do seu governo, que se inicia em abril.
Afirmando que está confiante também para a eleição deste ano, onde disputará a reeleição – já que ocupará o governo após a desincompatibilização de Wilma de Faria –, Iberê garante que não fará “caça às bruxas” em seu governo, referindo-se aos indicados de Robinson Faria que estão na administração.
Além desses assuntos, o vice-governador também trata sobre as mudanças imediatas que serão realizadas no governo, as composições partidárias para a sua campanha e afasta a possibilidade de que o PSB no Rio Grande do Norte esteja em palanque diferente do da ministra Dilma Rousseff. Tudo isso está na entrevista abaixo, concedida ao jornalista Diógenes Dantas.Diógenes Dantas: Grande expectativa para assumir o governo?Iberê Ferreira: Sem dúvida.
A ansiedade e expectativa são grandes. Mas vamos saber conduzir o estado para que ele não sofra com nenhum problema de descontinuidade. Temos que aproveitar não só o exercício do cargo, mas também os dias que antecedem a posse para que a gente possa se preparar para esse período de governo.DD: Como está sendo tratado esse momento de transição? Mesmo sendo um governo de continuidade, há alterações e é necessária a preparação.IF: Com certeza. Está sendo tudo discutido da melhor forma possível.
Eu me mantenho em sintonia fina com a governadora e acho que isso é o mais importante. Como eu tenho dito algumas vezes, estamos nos preparando para dar um foco maior na área de segurança, o que já começou. Como há essa sintonia com a governadora, desde o primeiro momento discutimos a convocação dos suplentes, a incorporação de outros e os resultados já estão aparecendo. Vamos intensificar esse trabalho e dinamizar por todo o estado.
DD: O senhor tem falado também que pretende focar em outras áreas. Quais são essas?IF: Não vou dizer aqui que vamos ter um choque de gestão, até porque não vai haver tempo, e nós temos consciência disso. Vamos fazer a mudança maior quando começar a minha gestão. Nós agora estaremos continuando e vamos concluir a gestão da governadora. Nas áreas da Saúde e Segurança é que teremos, com certeza, uma maior atuação.
DD: Ao falar em choque de gestão, o senhor não teme apontar falhas do atual governo? Isso não pode provocar uma comparação do seu período com o da governadora Wilma de Faria?




IF: Não, porque eu tenho conversado muito com ela. O governo da governadora Wilma é um governo bem avaliado. As pesquisas demonstram uma aceitação acima de 65% o que é muito bom. Mas é evidente que ela sabe há áreas que precisam de ações mais equalizadas e isso é comum. Ela sabe que o que for preciso ajustar nós estaremos ajustando, em nome do nosso governo.


DD: Desde o ano passado a imprensa e a população tem olhado para o vice-governador como se ele já tivesse o poder de gestão. Como é que o senhor está driblando as intrigas nesse momento de transição?IF: Linha direta. Resolvi com a governadora assim. Tratamos das questões referentes ao governo pessoalmente, quando eu quero falar com ela ou ela quer falar comigo. Assim vamos driblando as intrigas.


DD: Com relação ao secretariado, o senhor tem a intenção de realizar grandes mudanças quando iniciar o seu governo?IF: Absolutamente. Eu tenho essa consciência e tenho repetido isso, que é um período muito curto. Às vezes as pessoas podem ter essa ideia, de que vão mudar o governo nesse período, mas não adianta. Se mudar um secretário são necessários uns 60 dias para se inteirar da pasta. Vou mudar só o que for necessário. Pessoas que vão se desincompatibilizar porque vão ser candidatas, são outras que decidirem não continuar, como é o caso de Rubinho (Lemos, secretário de Comunicação), e eu não fico magoado porque é um direito e até, pela proximidade que ele tem da governadora, dá para entender.


DD: Setores da imprensa chegaram a levantar a hipótese de um desgaste com a saída de Rubinho. IF: Peguei o telefone e liguei para ele na hora para conversarmos. Não tem sentido isso. Eu tenho a maior admiração por ele.DD: Há também o caso do secretário de Segurança, Agripino Neto, que o senhor e a governadora teriam o interesse em fazer uma mudança, chegando inclusive a sondar o desembargador Cristovam Praxedes. Gostaria que o senhor comentasse isso.IF: É verdade. A governadora conversou com ele, disse que estava convidando um novo secretário, e isso faz parte. Esses cargos são cargos de confiança da governadora.


DD: O desembargador Cristovam Praxedes já aceitou o convite?IF: Ele foi à casa da governadora, conversou, mas evidente que ele não iria assumir esse cargo no carnaval ou às vésperas do carnaval, até porque não há essa necessidade. É uma coisa natural. Ele está estudando e avaliando a área antes de assumir.


DD: Ele vai assumir apenas quando o senhor iniciar o seu mandato?IF: Ele prefere ficar se inteirando mais dos assuntos da secretaria e eu ainda vou conversar com ele para saber se ele vai assumir antes ou só quando eu começar.DD: E na Saúde?









IF: Na Saúde também. O secretário já demonstrou à governadora (que vai sair). Ele é uma pessoa de bem e eu faço sempre questão de ressaltar isso. É uma pessoa correta, cidadão honesto, bem intencionado, mas ele já comunicou a mim e a governadora que queria sair.


Então, estamos vendo um nome para a vaga, para que façamos (Iberê e Wilma) uma coisa afinada.


DD: O governo teve uma perda devido à morte do secretário de Educação Ruy Pereira. Como está a discussão sobre o substituto de Ruy?IF: Ainda vamos discutir sobre o nome.


Foi um fato que ocorreu e nós vamos ter que conversar ainda neste fim de semana para saber se a governadora quer deixar alguém temporariamente ou se quer logo definir alguém que poderá ficar durante a minha gestão.


DD: O que o senhor acha mais viável?IF: Acho que uma mudança definitiva porque se ganha tempo e não se atrasa o programa da Educação, que é um enorme programa que o secretário Ruy Pereira preparou durante esses anos todos, principalmente voltada para o combate ao analfabetismo.


DD: Por uma questão política, uma dissidência na base do governo, o deputado Robinson Faria decidiu deixar a bancada do governo e o grupo dele seguiu junto para a oposição. Como está essa discussão sobre a ocupação dos cargos? A indicação dos substitutos vai ser do governo atual ou vai ser logo do seu governo?IF: Diógenes, às vezes eu digo e as pessoas não acreditam, mas eu ainda não conversei sobre isso com a governadora.


São tantos problemas que a gente tem...DD: Nem mesmo antes da crise política?IF: Não. Ainda não discutimos. E eu acho o seguinte: se você tem um cargo que está sendo ocupado por uma pessoa que foi indicação de qualquer parlamentar e se ele vem desempenhando bem o seu cargo, não usa o cargo para fazer política partidária, não vejo problemas. Evidente é que nós não vamos permitir gol contra, mas não há essa ansiedade para demitir.




DD: O deputado Robinson Faria ocupava muitos cargos no governo?IF: Eu acho que sim. A informação que eu tenho é que continua com muitos cargos e eu acho natural. Ele era aliado do governo, presidente da Assembleia, com um filho deputado federal, é evidentemente natural que ele tenha ocupado os cargos da região agreste.


Acho natural e nenhum absurdo. Mas não vejo agora motivo para uma “caça às bruxas”. Quem tiver bem, vai continuar. Pelo menos essa é a minha opinião.DD: Na saída de Robinson o senhor divulgou uma nota afirmando que política não deveria ser feita com ódio.


O que o senhor quis dizer com essa afirmação, até em um tom de aconselhamento ao deputado?IF: Senti nas entrevistas do presidente da Assembleia uma pessoa muito magoada, ressentida, falando muito do que tinha feito e fazendo um balanço.

Eu acho que política não se faz com ressentimento, e sim com vontade de trabalhar e servir.

DD: O deputado Robinson, ao sair da base, disse haver uma trama para tirá-lo do grupo e essa trama era de seu grupo. O que o senhor tem a dizer sobre isso? IF: Eu lamento que ele tenha tido essa informação, mas eu posso afirmar que essa informação não procede. Eu não sou nem muito ligado a esse ramo de tramas.

Eu sou uma pessoa mais aberta, mais transparente e não trabalho com essas coisas de golpe. Quem me conhece, sabe.

DD: O senhor tentou o apoio do deputado Robinson até o último momento. Há informações de que houve, inclusive, sondagens para que o ele fosse o vice do senhor. Até que ponto a dissidência de Robinson da base do governo prejudica a sua candidatura?IF: Eu sou da opinião de que política se faz com soma.

Cada uma pessoa que se perde, você perde politicamente, porque tem que ser uma soma. Nosso sistema perdeu com a saída do deputado Robinson, mas ao invés de ficar lamentando que o nosso sistema perdeu, eu penso para frente e passo a pensar como vamos compensar essa perda.

DD: O senhor foi o vice na chapa da governadora e deixou de disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados, e apoiou a candidatura do deputado Fábio Faria. Até que ponto o senhor foi importante na eleição dele? O senhor foi fundamental?



IF: Não, não fui fundamental. Fundamental é o povo que escolhe. É o voto da população. Eu apenas recomendei a alguns companheiros que votavam em mim que votassem no deputado, porque é alguém jovem, que tinha disposição para trabalhar. Mas eu só tenho o meu voto. Eu recomendei, mas acho que a minha participação foi pequena, mas me sinto satisfeito.


DD: No Congresso do PSB do estado, o partido vai confirmar a sua candidatura ao governo do estado, mas o senhor tem alguns percalços nesse caminho, além de alguma dissidência ou outra que possa ocorrer dentro da base. Temos aí a candidatura de Ciro Gomes, da base de Lula. Essa candidatura atrapalha o palanque que o senhor pretende montar aqui no estado?IF:


Eu não acredito na candidatura de Ciro Gomes. A candidatura está aí, mas nas vezes que eu conversei com o presidente do meu partido, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ele tem me dito, assim como diz à governadora também, que o PSB está afinado com o presidente Lula. A discussão da candidatura de Ciro Gomes vem sendo discutida dentro do partido, com o presidente Lula e com o PT, e com certeza o candidato do nosso partido será o candidato do presidente Lula.


DD: Na propaganda do PSB e em várias oportunidades Ciro reafirma que é candidato...IF: É um direito dele, né?DD: O senhor perde o sono com isso?IF: Perco nada. Acho que é um direito dele, o nosso partido é democrático.Mas também é um direito meu, como membro do diretório, fazer um boca de urna para que a gente apoie a candidatura de Dilma Rousseff, e não de Ciro Gomes.


DD: Mas caso a candidatura seja mantida pela maioria, qual será a postura do candidato Iberê?IF: Não trago essa hipótese para discutir. Não vou raciocinar sobre hipóteses.



DD: Eu já li na imprensa que o senhor teria garantido que, mesmo se Ciro Gomes for candidato, o senhor apoiará Dilma Rousseff.IF: Eu apoio Dilma e nem trato sobre outras hipóteses.DD: Outra questão diz respeito à postura do PT, que tem duas candidaturas de aliados, que é o PSB e também a candidatura de Carlos Eduardo, do PDT.Como o senhor está convivendo com esse dilema do PT?IF: Convivendo bem. Eu recebi, inclusive, uma ata de reunião do diretório dizendo que o PT reafirmava a preferência pela candidatura do PSB, e o meu nome, o que me deixa muito honrado. Espero que tenhamos essa parceria que será importante.


DD: Mas o senhor não desconhece que há setores do PT apoiando a candidatura de Carlos Eduardo.IF: Isso faz parte da democracia. A convivência dos contrários. Carlos Eduardo é uma pessoa correta e está no direito dele.DD: Acredita que realmente terá mais de duas candidaturas?IF: Eu só olho para a minha (risos). Hoje, o que estamos vendo, realmente são seis candidaturas. Mas não sei como será amanhã.


]DD: O senhor acredita que o PT pode ir dividido para esta eleição?IF: Não. Até porque a formação do PT é muito homogênea. Há muitas tendências, mas eles cumprem o que é definido pela maioria. É um partido disciplinado e dá uma lição a muitos partidos.


DD: O PCdoB já afirmou ao senhor que vai se compor com Carlos Eduardo e que não vai estar com o senhor nas eleições deste ano?IF: Não, de forma alguma. As vezes que conversei com o PCdoB não senti esse apoio ao ex-prefeito Carlos Eduardo, até porque o PCdoB também participa do governo. Mas isso não me assusta nem me deixa magoado ou decepcionado. Pelo contrário.Vou lutar pelo apoio do PCdoB, mas isso não significava dizer que eu vá brigar.


DD: E as conversas com o PR, do deputado João Maia? Como está a relação, o que está definido?IF: As conversas com João estão excelentes. Discutindo cada região, fazendo uma avaliação, até porque cada município tem uma particularidade. O deputado tem conversado comigo e estamos discutindo bastante sobre os rumos da eleição.Ele está a favor de nossa candidtaura.


DD: Sobre a questão do vice. Robinson teria negado, João Maia teria a preferência por ser candidato a deputado federal... O senhor teria dificuldades para encontrar um vice? Isso o preocupa?IF: De jeito nenhum. Eu não tenho nenhuma dificuldade. Mas a nossa estratégia é essa.É chegar até próximo à convenção sem ocupar esse lugar. Existem conversas, mas nós não vamos fazer essa definição antes de chegar mais próximo, porque se não a gente vai engessar a chapa. Temos que ter o que oferecer. O PT já nos procurou para reivindicar uma vaga para o Senado, a outra já é da nossa governadora. Então temos que esperar e negociar, tendo o que oferecer.


DD: As conversas com o PV estão encerradas, após a sinalização da prefeita Micarla de que deverá manter a base que a ajudou na eleição de Natal?IF: Você só finaliza aquilo que você inicia. Eu não tive nenhuma conversa com o PV e declarei que, se fosse procurado, conversaria.

Mas eu não fui procurar. Nada contra, mas não posso dizer que está encerrado se eu sequer iniciei.


DD: Está confiante para a eleição?IF: Estou demais. As pesquisas de opinião a que tive acesso demonstram que eu estou em uma curva ascendente. Comecei com dois pontos percentuais, passei para cinco, depois para oito, depois 11%,depois 16%, e é isso que me estimula.DD: Tem medo de algum candidato? Há algum governador de férias?IF: Eu estou louco para encontrar os candidatos de férias (risos). Já tem uma, né?
Por Diógenes Dantas

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