terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Crise hipertensiva faz Lula revelar ser fumante compulsivo e aposentar o costume



Depois da crise hipertensiva, na semana passada, e sob a pressão de médicos, amigos e familiares, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se convenceu de que é hora de parar de fumar. Decidiu ontem que deixará de lado as 30 cigarrilhas da marca holandesa Café Crème que vinha fumando diariamente. Mas avisou que manterá o ritmo de viagens pelo país para promover obras do governo e a pré-campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência. O hábito (ou vício) é cultivado pelo presidente há anos, embora ele pouco apareça em público dando tragadas. Após o pico de pressão diagnosticado pouco minutos antes de ele deixar o Recife, no dia 27, o assunto veio à tona. O cigarro, associado ao estresse de uma agenda corrida, foi um dos causadores do problema.


Mas além de tomar uma decisão que visa uma vida saudável, o presidente segue uma tendência observada entre políticos: a de que fumar pode depor contra a imagem, "queimar o filme". Muitos têm se livrado do vício. Em Pernambuco, o governador Eduardo Campos (PSB) é um deles. No seu gabinete, no Palácio do Campo das Princesas, até mesmo os cinzeiros desapareceram. O deputado estadual André Campos (PT), que por anos foi visto com uma carteira de Charm, também decidiu parar. No plano nacional, o deputado federal e presidenciável do PSB Ciro Gomes (CE) foi outro a engrossar a lista de ex-fumantes.


No Brasil, segundo levantamento divulgado em novembro passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem 26 milhões de ex-fumantes. O número supera em 1,4 milhão o total de fumantes, que hoje chega a 26,6 milhões de pessoas de 15 anos ou mais. Segundo a mesma pesquisa, em Pernambuco 17,6% dos 46,3% viciados afirmaram que pensam em parar. Há que se destacar, porém, que, mesmo com a queda, estima-se que anualmente cerca de 200 mil pessoas ainda morram precocemente no Brasil devido às doenças causadas pelo cigarro. Além disso, o tabagismo permanece como a principal causa de morte evitável em todo o mundo,de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).


Respeito - Marqueteiro da campanha do PT na disputa (vitoriosa) pela prefeitura do Recife em 2008, o publicitário e jornalista Raimundo Luedy diz que nunca precisou orientar nenhum política sobre isso, mas que o cigarro é, sim, associado a uma imagem negativa. "Se surgir alguém que goste de exibir o cigarro em público, a gente vai recomendar para que tenha cuidado. Hoje o ato de fumar pode gerar antipatia na sociedade", afirma.


Segundo os marqueteiros, no entanto, a decisão de largar o cigarro não passa pela interferência deles. É um assunto pessoal. Responsável pelo marketing na campanha do governador Eduardo Campos em 2006, Edson Barbosa salienta o lado humano da questão. "Procuro respeitar o ser humano. É um assunto delicado", diz, acrescentando que jamais tratou do tema com o socialista. "Não suporto nada que seja falso ou apenas oportunismo. Mais grave do que um eventual vício são os hábitos que levam à má gestão que compromete o erário público".


Poroutro lado, Rodrigo Vaz, cirurgião e oncologista toráxico do Hospital do Câncer de Pernambuco, destaca que a decisão de deixar o cigarro, quando tomada por um homem público, pode ter repercussão positiva. "Acho que as pessoas públicas têm também essa missão", diz. Ele acredita que o presidente Lula passará a ter mais fôlego e menos risco de sofrer um acidente vascular cerebral, infarto e câncer. "A qualidade de vida cresce naturalmente".

Nenhum comentário: